Projeto busca empoderar jovens negros e periféricos para a vida e o trabalho
Eri Menezes 19 de outubro de 2023 0
O projeto Ancestralidades, do Serviço Social do Comércio (Sesc) Ceará, está causando impacto ao criar ambiência para diálogos importantes em busca do reconhecimento e da valorização dos povos nativos do Ceará, ao mesmo tempo em que empodera a juventude periférica de Fortaleza e Região Metropolitana. Durante todo o ano de 2023, a iniciativa tem lugar na instituição Quintal Cultural, localizada no bairro Bom Jardim. Por lá, um grupo composto por cerca de 25 adolescentes, com idades de 10 a 16 anos, está imerso, desde o início do ano, em discussões sobre temáticas raciais.
Assim como em muitas outras iniciativas dessa natureza que têm sido difundidas no País, o projeto busca desempenhar um papel fundamental na promoção da conscientização, no empoderamento e na valorização das identidades culturais, raciais e territoriais, transformando a vida desses jovens e contribuindo para um Ceará mais diverso e inclusivo. E isso também diz respeito a essa juventude, que tem buscado cada vez mais se engajar no mercado de trabalho e no empreendedorismo.
Apesar das intenções positivas contidas nessas ações, do ponto de vista econômico e social, o cenário ainda é dos mais espinhosos. É o que apontam pesquisas recentes voltadas para o tema. Um levantamento recente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), intitulado “Empreendedorismo por Raça-cor (e sexo)”, por exemplo, apontou que empreendedores negros, mesmo sendo a maioria (52% no Brasil), ganham menos, têm menor escolaridade, não podem dispor de funcionários – tendo que trabalhar sozinhos – e acabam por contribuir menos com a Previdência. Para se ter um ideia, no segundo trimestre de 2022, a renda mensal média dos empreendedores negros era de R$ 2.079, em contraste com os R$ 3.040 recebidos por empreendedores brancos, o que equivale a uma média 32% menor para os essa negros.
Ancestralidades – Saiba mais
Com foco constante em melhorar panoramas como esse, o projeto Ancestralidades iniciou suas atividades com uma profunda reflexão sobre a experiência de ser negro, traçando, ao longo do ano, a trajetória histórica da população negra no Ceará até chegar ao bairro em que eles residem.
O projeto se desdobra em três etapas:
● Ancestralidade: A primeira etapa aborda questões sobre ancestralidade, destacando sua importância e como ela permeia o cotidiano e a história do Ceará sob a perspectiva dos povos nativos. O grupo já visitou quilombos, territórios indígenas e pontos históricos em Fortaleza, enriquecendo a vivência cultural com atividades como capoeira e dança do coco.
● História e Cultura dos Povos Nativos: Na segunda etapa, o projeto se aprofunda no entendimento da história, cultura e resistência dos povos nativos do Ceará, bem como em sua organização social;
● Juventude Periférica e Território: Já a terceira etapa se concentra na população periférica, conectando os diálogos anteriores com a história do bairro onde o projeto é realizado, questões territoriais e a vivência das famílias.
Para o técnico de programas do Sesc, responsável por implementar a ação, Juscelino Ferreira, a proposta é importante porque pode combater diretamente o racismo estrutural, “quebrando o ciclo de estereótipos e discriminações enraizados”, proporcionando uma nova ótica sobre essa população. “Para a comunidade que está sendo beneficiada, tem a questão do patrimônio imaterial, de entender suas raízes, além de responder várias questões sobre costumes e tradições, reorganizar e fortalecer identidades. Pessoalmente, ainda há a perspectiva de se entender quanto pessoa, de aceitar principalmente seus traços e abrir um diálogo crítico sobre como sua comunidade é tratada”, explica ele.
Evento em novembro
De 21 a 24 de novembro, o Ancestralidades irá realizar a Semana Sesc de Promoção da Igualdade Racial, focando na temática da juventude e da periferia. A proposta é de oferecer uma programação rica, com rodas de conversa sobre periferia e empreendedorismo, discussões sobre os corpos negros periféricos e suas interseccionalidades, além de oficinas de turbantes e bijuterias africanas. O evento culminará com uma atração musical, proporcionando quatro dias de ações voltadas para a discussão de temas abrangentes que abraçam diversos projetos e territórios em parceria.